terça-feira, 27 de março de 2007

Pseudo-Liberdade

Caro leitor, é com muita pena minha que escrevo sobre este assunto, mas decidi fazê-lo para alertá-lo a si, tal como eu fui alertado, para um problema que muitas vezes nos passa ao lado. O assunto que aqui pretendo expor-lhe pode resumir-se numa pergunta simples, embora de resposta difícil: Existe, ou não, em Portugal e na grande maioria dos países terrestres, aquilo a que se pode chamar "liberdade de expressão"? Esta pergunta transporta-nos para outra: Existe, ou não, nestes mesmos países, uma "censura" dissimulada?
Feitas as perguntas, tentemos encontrar respostas, centrando-nos no nosso país ( se queremos mudar algo, mudemo-nos primeiramente a nós próprios). É um facto que a ditadura Salazarista abandonou Portugal há mais de três décadas, mas também é um facto que muita gente se mostra descontente com o actual regime, ou talvez apenas com o actual governo. Há cerca de quarenta anos atrás o nosso país era governado por um homem manipulador, ganancioso, e sem escrúpulos, e a liberdade de expressão não passava, nessa altura, de uma utopia, mas quando observo certos comportamentos de chefes de estado, ministros e outros deputados da actualidade, tudo me leva a crer que vivemos numa pseudo-liberdade expressiva. Exemplos como o referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez não são mais, na minha opinião, do que areia para os olhos do povo, evitando que este encontre razões óbvias para reivindicar mais do que aquilo que lhe é permitido, e permitindo que este mesmo povo esqueça o que aconteceu em Agosto de 2004, quando o governo português, na altura liderado por Pedro Santana Lopes, não permitiu a entrada em águas portuguesas do barco "Borndiep", da organização "Women on Waves". Sendo Portugal um país em que existe a tal "liberdade de expressão", e fazendo parte dos países que integram a União Europeia, pergunto-me se este barco terá, ou não, sido bloqueado, pelo governo de direita na altura ( coligação PSD/PP ), para evitar informar a população sobre o assunto "aborto". Os mesmos partidos políticos que se opuseram á entrada deste barco em águas portuguesas, foram os mesmo que se opuseram, sem sucesso, á realização do referendo em Fevereiro de 2007, o que me leva a concluir que estes mesmos partidos não são, de todo, a favor da existência da liberdade de escolha e opinião do povo português.
Não querendo tornar o texto demasiadamente político, apresento-vos outra situação ( se não a principal ), que me transportou para estes pensamentos. Fui alertado, por uma amiga, que circula na internet, actualmente, um e-mail cuja mensagem é a seguinte:

Um filme blasfemo vai sair em breve na América do Norte.
Este filme intitulado "Corpus Christi" (O Corpo de Cristo), mostra Jesus mantendo relações homossexuais com os seus discípulos. A versão teatral já se apresentou. É uma paródia repugnante de Jesus, mas uma acção concentrada da nossa parte poderia provavelmente mudar as coisas.
Aceita juntar o seu nome no fim da lista? Em caso afirmativo, poderíamos
evitar a projecção deste filme mentiroso e burlesco que não traz nada de
positivo. PRECISAMOS DE MUITOS NOMES.

Seguindo-se esta mensagem, claro está, de uma lista de várias centenas de nomes.

Analisando a mensagem, é possível encontrar vários atentados á liberdade de expressão, pois no geral, ela tenciona funcionar como uma espécie de "censura" em relação a um filme; mas a minha maior surpresa aconteceu quando analisei os nomes que constavam da lista e percebi que se tratavam de nomes espanhóis e portugueses. A minha surpresa deveu-se ao facto de, nestes países, a censura ser algo, supostamente, banido da sociedade actual; o que pelos vistos, não vai de encontro á vontade das centenas de pessoas que colocaram o seu nome na lista.
Consultando um dicionário, podemos ler que o termo " censura" significa "uso pelo estado ou grupo de poder, no sentido de controlar a liberdade de expressão", e mais á frente podemos ainda acrescentar "no sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte". Pois bem, sendo o cinema uma forma de arte, esta é, ou não, uma forma de tentar exercer censura? Admito que o filme possa ser repugnante para a maioria dos cidadãos portugueses e espanhóis, sendo estes países essencialmente cristãos, mas isso será razão para proibir a projecção deste filme nos seus territórios? Se recuarmos no tempo, podemos lembrar-nos dos tempos em que a Inquisição assolava o nosso país e, principalmente, o país nosso vizinho; serão mensagens como esta que nos alertam para o regresso desta tão conhecida e tão drástica forma de censura? Ou será que ela nunca abandonou realmente o nosso território? Estas são algumas das perguntas que surgiram na minha cabeça depois de ler esta mensagem, e são estas perguntas que lhe coloco a si, leitor.
Enquanto iniciativas como esta não forem erradicadas na nossa sociedade, nunca vamos obter a verdadeira e total "liberdade de expressão" pela qual tanto se lutou em Portugal. Cabe-me a mim e a si, tentar fazer deste país um país livre, e não um país zelado e governado por interesses pessoais ou organizacionais.

O Incorrigível

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